sexta-feira, abril 27, 2012

Alterações climáticas são um problema social e económico


Alterações climáticas são um problema social e económico
Carolina Fonseca, 10º1A. Colégio Valsassina
O principal desafio que se coloca hoje ao Planeta é o impacte das alterações climáticas, uma ameaça mundial com muitos rostos diferentes. Desde inundações a secas, o modo como somos afetados pelas alterações que nos estão a atingir, e pelas que nos afetarão no futuro, varia consoante a região em que vivemos. As alterações climáticas são por isso um problema social e económico com uma expressão coletiva forte e, como tal implicam uma responsabilidade social elevada. E se não atuarmos a sério, dentro de 100 anos, as mudanças climáticas vão custar em média cerca de 5% a 20% do PIB mundial.

O desenvolvimento da ciência e da tecnologia  tem trazido diversas transformações na sociedade contemporânea, refletindo em mudanças a nível económico, político e social. É habitual considerar-se a ciência e a tecnologia como motores de progresso que proporcionam não só o desenvolvimento do saber humano, mas também uma evolução para o Homem. Vistas dessa forma, supõe-se que ambas trarão apenas benefícios à humanidade.
Porém, confiar excessivamente na ciência e na tecnologia e identificá-las com seus produtos pode ser perigoso, pois isso supõe um distanciamento delas em relação às questões com que se envolvem (Bazzo, 1998 in Pinheiro et al., 2012). Seu contexto histórico deve ser analisado e considerado como uma realidade cultural que contribui de forma decisiva  para as mudanças sociais, cujas manifestações se expressam na relação do homem consigo mesmo e com os outros.
Por sua vez, as finalidades e interesses sociais, políticos, militares e económicos que resultam do uso de novas tecnologias são também os que implicam enormes riscos; por enquanto o desenvolvimento científico-tecnológico e seus produtos não são independentes de seus interesses (Bazzo, 1998 in Pinheiro et al., 2012). O modelo tradicional no qual temos assistido ao desenvolvimento das sociedades modernas não inclui devidamente nem o papel dos fatores sociais nas várias fases de inovação tecnológica, nem as diversas interações entre todos estes fatores.
Desde que existem humanos à face da Terra que temos afetado o ambiente à nossa volta. Mas, no passado, os efeitos da caça, recoleção ou atividades agrícolas foram basicamente locais e sem grande expressão ou impacte ambiental. Este cenário alterou-se radicalmente com a Revolução Industrial, que começou à volta de 1750, e que teve uma particular intensificação nos séculos XIX e XX. Uma revolução implica uma alteração social profunda.
As alterações climáticas são, por definição, alterações do clima provocadas pela emissão de gases de efeito de estufa de carácter antropogénico, ou seja, causados por atividades humanas. Dessas atividades humanas, a produção (extração, processamento, transporte e distribuição) e uso de combustíveis fósseis são responsáveis por ¾ das emissões antropogénicas de CO2, 1/5 do metano e uma quantidade significativa do N2O.
Para além de todas as atividades que implicam a combustão de combustíveis fósseis, também contribuem de forma significativa para as alterações climáticas: a desflorestação (segunda maior fonte global de CO2); a pecuária (fermentação dos alimentos e decomposição de estrumes); o cultivo de arroz (responsável por aproximadamente ¼ das emissões globais de metano); o uso de fertilizantes agrícolas; a substituição dos CFC’s por HFC’s e PFC’s.
Do ponto de vista meramente económico, as atividades referidas podem ser caracterizadas através de um determinado padrão de atividade que, centrado em fontes energéticas fósseis, está a colocar em causa – pela sua crescente dimensão e interferência com os ciclos e ecossistemas naturais – a manutenção dos sistemas de vida existentes na Terra; por outro lado, temos um determinado tipo de comportamentos sociais e humanos (às escalas individuais / familiares, coletivas / grupais e institucionais) que dão o suporte necessário a esse modo de produção e que contribuem de forma decisiva para a manutenção dos correspondentes padrões de consumo. Transversalmente, há ainda a considerar o campo político no qual, em diferentes escalas e áreas de atividade humana, se materializam as tensões inerentes à mudança e à escolha, elementos fundamentais na resolução de problemas.
Para Rubington e Weiberg 1995 (in Carmo, 2001) um problema social é uma alegada situação incompatível com os valores de um significativo número de pessoas, que concordam ser necessário agir para o alterar.
Deste modo, as alterações climáticas constituem um problema social e económico, a uma escala global. Neste quadro, verifica-se que este é sobretudo um problema de escolha e de opção em função de uma realidade que nos confronta e que nos obriga a agir (Schmidt & Nave, 2003). De referir que, de acordo com o relatório Stern, dentro de 100 anos, as mudanças climáticas vão custar em média cerca de 5% a 20% do PIB, enquanto resolver o problema hoje custa cerca de 1% do PIB[1].
Por sua vez, para Gro Harlem Brundtland (uma das responsáveis pela criação da Comissão para o Ambiente e Desenvolvimento da ONU, missão que está na génese do relatório "Our Common Future", que viria a ditar a organização da Cimeira do Rio, em 1992) “a crise financeira pode inspirar as empresas a "limpar o ambiente", através de tecnologias mais eficientes que, a longo prazo, poupam dinheiro. A crise revelou que a visão de longo prazo é uma das dificuldades”. Numa entrevista ao Jornal de Negócios, em 12/10/2009[2], Gro Harlem Brundtland referiu que “foi uma loucura o que aconteceu. Quando vemos pessoas e empresas que se proclamam socialmente responsáveis e depois não seguem os princípios do desenvolvimento sustentável, estamos perante uma farsa. Vemo-lo a acontecer demasiado. Mas isso ilustra que sentem a pressão, que sabem que há uma opinião pública que exige mais”.
Perante tal cenário, é interessante verificar que, quando inquiridos sobre quais os riscos que, atualmente, mais preocupam os portugueses é constatata-se que os riscos ambientais surgem em segundo lugar (Fonte: WWW.Ecoline.pt) o que pode ser indicador de uma “consciência ecológica” ou, pelo menos, de uma percepção que o ambiente e a sua conservação é um pressuposto básico para a qualidade de vida e até sobrevivência da espécie humana.


As alterações das condições ambientais/climáticas e a sua imprevisibilidade deve ter expressão na adoção de novos comportamentos. Estes, resultam da necessidade que as populações estão ou irão sentir, direta ou indiretamente, para se adaptarem a novas condições ambientais[3].
Em suma, as alterações climáticas são um problema social com uma expressão coletiva forte, e de que enquanto tal implicam uma responsabilidade social elevada. Em pleno Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos espera-se que seja possível dar passos decisivos para dinamizar a economia e lutar contra a mudança climática.
Referências bibliográficas
Carmo, H. 2001. Problemas sociais contemporâneos. Universidade Aberta. Lisboa. 385 pp.
Nave, J. & Schmidt, L. 2003. As Alterações Climáticas no Quotidiano - Estudo Comportamental de Curta Duração. Relatório Final. ISCTE. Lisboa.
Pinheiro, N.; Silveira, R.; Bazzo, W. (2012). O contexto científico-tecnológico e social acerca de uma abordagem crítico-reflexiva: perspectiva e enfoque. Revista Ibero Americana de Educación. Disponível online em http://www.rieoei.org/deloslectores/2846Maciel.pdf. Consultado em 3 de abril de 2012.


[1] Consultado em 31 de março em http://europa.eu/legislation_summaries/energy/european_energy_policy/l28188_pt.htm.
[2] Consultado em 6 de abril de 2012 em http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?id=390685&template=SHOWNEWS_V2.
[3] VI Seminário Latino Americano de Geografia Física, II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física, Universidade de Coimbra, Maio de 2010

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