Alterações climáticas são um problema social e económico
Carolina Fonseca, 10º1A. Colégio Valsassina
O principal desafio que se
coloca hoje ao Planeta é o impacte das alterações climáticas, uma ameaça
mundial com muitos rostos diferentes. Desde inundações a secas, o modo como
somos afetados pelas alterações que nos estão a atingir, e pelas que nos afetarão
no futuro, varia consoante a região em que vivemos. As alterações climáticas
são por isso um problema social e económico com uma expressão coletiva forte e,
como tal implicam uma responsabilidade social elevada. E se não atuarmos a sério, dentro de 100 anos, as mudanças climáticas
vão custar em média cerca de 5% a 20% do PIB mundial.
O desenvolvimento da ciência e da
tecnologia tem trazido diversas
transformações na sociedade contemporânea, refletindo em mudanças a nível
económico, político e social. É habitual considerar-se a ciência e a tecnologia
como motores de progresso que proporcionam não só o desenvolvimento do saber
humano, mas também uma evolução para o Homem. Vistas dessa forma, supõe-se que
ambas trarão apenas benefícios à humanidade.
Porém,
confiar excessivamente na ciência e na tecnologia e identificá-las com seus
produtos pode ser perigoso, pois isso supõe um distanciamento delas em relação
às questões com que se envolvem (Bazzo, 1998 in Pinheiro et al.,
2012). Seu contexto histórico deve ser analisado e considerado como uma
realidade cultural que contribui de forma decisiva para as mudanças sociais, cujas manifestações
se expressam na relação do homem consigo mesmo e com os outros.
Por
sua vez, as finalidades e interesses sociais, políticos, militares e económicos
que resultam do uso de novas tecnologias são também os que implicam enormes
riscos; por enquanto o desenvolvimento científico-tecnológico e seus produtos
não são independentes de seus interesses (Bazzo, 1998 in Pinheiro et
al., 2012). O modelo tradicional no qual temos assistido ao desenvolvimento das
sociedades modernas não inclui devidamente nem o papel dos fatores sociais nas
várias fases de inovação tecnológica, nem as diversas interações entre todos
estes fatores.
Desde que existem humanos à face da Terra que temos afetado o
ambiente à nossa volta. Mas, no passado, os efeitos da caça, recoleção ou
atividades agrícolas foram basicamente locais e sem grande expressão ou
impacte ambiental. Este cenário alterou-se radicalmente com a Revolução
Industrial, que começou à volta de 1750, e que teve uma particular
intensificação nos séculos XIX e XX. Uma revolução implica uma alteração social
profunda.
As alterações climáticas são, por definição, alterações do clima
provocadas pela emissão de gases de efeito de estufa de carácter antropogénico,
ou seja, causados por atividades humanas. Dessas atividades humanas, a produção
(extração, processamento, transporte e distribuição) e uso de combustíveis
fósseis são responsáveis por ¾ das emissões antropogénicas de CO2,
1/5 do metano e uma quantidade significativa do N2O.
Para além de todas as atividades que implicam a combustão de
combustíveis fósseis, também contribuem de forma significativa para as
alterações climáticas: a desflorestação (segunda maior fonte global de CO2);
a pecuária (fermentação dos alimentos e decomposição de estrumes); o cultivo de
arroz (responsável por aproximadamente ¼ das emissões globais de metano); o uso
de fertilizantes agrícolas; a substituição dos CFC’s por HFC’s e PFC’s.
Do ponto de vista meramente económico, as atividades referidas
podem ser caracterizadas através de um determinado padrão de atividade que,
centrado em fontes energéticas fósseis, está a colocar em causa – pela sua
crescente dimensão e interferência com os ciclos e ecossistemas naturais – a
manutenção dos sistemas de vida existentes na Terra; por outro lado, temos um
determinado tipo de comportamentos sociais e humanos (às escalas individuais /
familiares, coletivas / grupais e institucionais) que dão o suporte necessário
a esse modo de produção e que contribuem de forma decisiva para a manutenção
dos correspondentes padrões de consumo. Transversalmente, há ainda a considerar
o campo político no qual, em diferentes escalas e áreas de atividade humana, se
materializam as tensões inerentes à mudança e à escolha, elementos fundamentais
na resolução de problemas.
Para Rubington e Weiberg 1995 (in Carmo, 2001) um problema
social é uma alegada situação incompatível com os valores de um significativo
número de pessoas, que concordam ser necessário agir para o alterar.
Deste modo, as alterações climáticas constituem um problema social
e económico, a uma escala global. Neste quadro, verifica-se que este é
sobretudo um problema de escolha e de opção em função de uma realidade que nos
confronta e que nos obriga a agir (Schmidt & Nave, 2003). De referir que, de acordo com o relatório
Stern, dentro de 100 anos, as mudanças climáticas vão custar em média cerca de
5% a 20% do PIB, enquanto resolver o problema hoje custa cerca de 1% do PIB[1].
Por sua vez, para Gro Harlem Brundtland (uma das responsáveis pela
criação da Comissão para o Ambiente e Desenvolvimento da ONU, missão que está
na génese do relatório "Our Common Future", que viria a ditar a
organização da Cimeira do Rio, em 1992) “a crise financeira pode inspirar as
empresas a "limpar o ambiente", através de tecnologias mais
eficientes que, a longo prazo, poupam dinheiro. A crise revelou que a visão de
longo prazo é uma das dificuldades”. Numa entrevista ao Jornal de Negócios, em
12/10/2009[2], Gro Harlem Brundtland
referiu que “foi uma loucura o que aconteceu. Quando vemos pessoas e empresas
que se proclamam socialmente responsáveis e depois não seguem os princípios do
desenvolvimento sustentável, estamos perante uma farsa. Vemo-lo a acontecer
demasiado. Mas isso ilustra que sentem a pressão, que sabem que há uma opinião
pública que exige mais”.
Perante
tal cenário, é interessante verificar que, quando inquiridos sobre quais os
riscos que, atualmente, mais preocupam os portugueses é constatata-se que os riscos ambientais surgem em
segundo lugar (Fonte: WWW.Ecoline.pt) o que pode ser indicador de uma
“consciência ecológica” ou, pelo menos, de uma percepção que o ambiente e a sua
conservação é um pressuposto básico para a qualidade de vida e até
sobrevivência da espécie humana.
As alterações das
condições ambientais/climáticas e a sua imprevisibilidade deve ter expressão na
adoção de novos comportamentos. Estes, resultam da necessidade que as
populações estão ou irão sentir, direta ou indiretamente, para se adaptarem a
novas condições ambientais[3].
Em suma, as alterações climáticas são um problema social com uma
expressão coletiva forte, e de que enquanto tal implicam uma responsabilidade
social elevada. Em pleno Ano Internacional
da Energia Sustentável para Todos espera-se que seja possível dar passos decisivos
para dinamizar a economia e lutar contra a
mudança climática.
Referências bibliográficas
Carmo, H. 2001. Problemas sociais contemporâneos.
Universidade Aberta. Lisboa. 385 pp.
Nave, J. & Schmidt, L. 2003. As Alterações
Climáticas no Quotidiano - Estudo Comportamental de Curta Duração. Relatório Final. ISCTE. Lisboa.
Pinheiro, N.; Silveira, R.; Bazzo, W. (2012). O contexto
científico-tecnológico e social acerca de uma abordagem crítico-reflexiva:
perspectiva e enfoque. Revista Ibero Americana de Educación. Disponível online
em http://www.rieoei.org/deloslectores/2846Maciel.pdf. Consultado em 3 de abril
de 2012.
[1]
Consultado em 31 de março em
http://europa.eu/legislation_summaries/energy/european_energy_policy/l28188_pt.htm.
[2]
Consultado em 6 de abril de 2012 em http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?id=390685&template=SHOWNEWS_V2.
[3] VI Seminário Latino Americano de Geografia Física, II Seminário Ibero-Americano
de Geografia Física, Universidade de Coimbra, Maio de 2010
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