Telhados Verdes ganham terreno nas cidades: são
pequenos pulmões para grandes cidades
Duarte Mendes da Silva, Francisco Águas e Martim
Nabais. 8ºC. Colégio Valsassina
Os
telhados verdes estão a ganhar terreno no mundo e em Portugal, com vista a
obter cidades sustentáveis. Uma cobertura normal pode aquecer até aos 60ºC,
enquanto um relvado chega apenas aos 25ºC. Estas coberturas
com jardins reduzem o calor e o consumo energético, sendo por isso uma alternativa
sustentável perante os telhados convencionais. E
ainda absorvem a água das chuvas. Contudo, os custos são ainda elevados o que
está a limitar a expansão destes telhados pelas cidades. Em Portugal,
exemplos como a ETAR de Alcântara, a Gulbenkian ou o Jardim das Oliveiras no
Centro Cultural de Belém são projetos bem-sucedidos fornecendo o mote para o
caminho a seguir rumo à sustentabilidade.
Um Telhado verde é uma técnica de
arquitetura que consiste na aplicação e uso de solo e vegetação sobre uma
camada impermeável, geralmente instalada na cobertura de edifícios. A
utilização de telhados verdes é uma alternativa sustentável perante os telhados
convencionais. As suas principais vantagens são: facilitar a drenagem (através
da absorção de água da chuva, proporcionando um melhor isolamento), fornecer
isolamento acústico e térmico e produzir um diferencial estético e ambiental na
edificação. Além disso, ajudam a diminuir a temperatura do ar urbano e atenua o
efeito de ilha de calor.
De acordo com o
arquiteto Luís Silva, responsável pelo Departamento de Urbanismo de uma empresa
de engenharia civil da área da grande Lisboa, “os telhados verdes são utilizados
para reduzir o aquecimento, possibilitar a criação de um habitat natural, contribuem
para a filtração de poluentes e de dióxido de carbono, e ajudam a isolar a
acústica de um edifício”. Uma cobertura normal pode aquecer
até aos 60ºC, enquanto um relvado chega apenas aos 25ºC, a diferença reflete-se
na diminuição do uso de ar condicionado, na fatura energética (redução de
custos entre 20 a 30%) e na pegada ecológica. De acordo com este arquiteto “os telhados convencionais são feitos de betão armado,
telhas cerâmicas, telhas metálicas, ou fibrocimento, os quais acumulam calor e
transferem-no para dentro do prédio. No telhado verde a cobertura vegetal
encarrega-se de dissipar ou consumir esta energia pela evapotranspiração e pela
fotossíntese, reduzindo o calor transferido para o interior.”
Os elementos presentes num telhado
verde são, uma camada impermeável, um sistema de drenagem eficiente, permitindo
uma boa retenção da água, e uma escolha adequada da vegetação (dando
preferência a plantas adequadas ao clima da região).
A grande desvantagem é a nível
económico. A diferença de preços para os telhados convencionais deve-se
essencialmente à quantidade de materiais envolvidos e, por vezes, à
complexidade de instalação e/ou à escassez de mão-de-obra especializada. Para o arquiteto Thiago Moretti,
do Atelier de Isay Weinfeld situado em São Paulo, Brasil, “deve-se avaliar
cada caso, contabilizando quanto se irá poupar em recursos energéticos e
ambientais ao longo da vida do edifício”.
Estes dois arquitetos são unânimes,
a “principal desvantagem dos telhados verdes é o custo inicial
elevado”. Luís Silva realça que “um sistema de telhado verde pode custar entre 100 a 200 €
por metro quadrado dependendo do tipo de telhado, da estrutura do edifício, e
das plantas utilizadas”. Além disso, “há ainda a ter em atenção que alguns edifícios não conseguem
suportar a carga do substrato e da vegetação”. Também não se pode pôr de lado outra
questão pois “a sociedade em geral tem
a ideia que esta solução contribui para o aumenta do aparecimento de insetos”.
Contudo, esclarece
Luís Silva, “estamos a falar de moscas,
borboletas, besouros, entre outros animais essenciais à vida de outros seres, como
certas aves, o que permite o estabelecimento do espaço vital nos ecossistemas
urbanos”.
A implantação de jardins nos
telhados das edificações é já relativamente popular nos EUA e nos países Escandinavos
e Alemanha e, aos poucos, está a conquistar o resto da Europa e a América
Latina. Bons exemplos não faltam. Para Thiago Moretti “o California
Academy of Science do Arquiteto Renzo Piano é um bom exemplo, pois para além de
funcionar combinado com outros recursos de eficiência energética (ventilação e iluminação
natural, tratamento e aproveitamento das águas, etc..), tirou partido do
telhado para criar uma imagem forte para o projecto.
(À esquerda) Atualmente, um dos
exemplos mais emblemáticos da utilização de coberturas verdes encontra-se nos
EUA, no California Academy of
Science. Fonte: http://www.seferin.com.br/pt-br/blog/renzo-piano (À direita). Instalação
de um telhado verde na nova ETAR de Alcântara.
Luís Silva
considera que, “estes pequenos pulmões podem mesmo servir como reguladores
térmicos da cidade, podendo reduzir dois a três graus centígrados na
temperatura das cidades. Sendo certo que não substituem os jardins, ajudam a
diminuir o efeito de estufa”. Diz ainda que no “caso particular de Lisboa, as coberturas são cada vez mais
importantes e ganham uma importância ainda maior a nível estético”. No entanto, ainda não há um consenso alargado. Para muitos esta
solução é desajustada para Lisboa e dirige-se mais para casas de campo devido
aos cuidados de manutenção e consumo em água. Mas, de acordo com Luís
Silva “já há coberturas verdes em Lisboa sem grande manutenção (…) e no novo
Plano Diretor Municipal da cidade, um dos artigos contempla a descriminação
positiva para estas soluções.
Os arquitetos
chamam-lhe a quinta fachada dos edifícios e a tendência está a ganhar adeptos,
a nível mundial e também em Lisboa. Os telhados e coberturas das casas da
capital começam a ser, também, espaços verdes. Por motivos arquiteturais,
energéticos, ambientais e estéticos, colocar um relvado ou um jardim no topo
das habitações começa a fazer sentido. Contudo, apesar dos
evidentes benefícios constata-se que o (ainda) elevado investimento necessário
para construir coberturas ajardinadas é um dos principais entraves contra esta
solução paisagística. Em Portugal, exemplos
como a nova ETAR de Alcântara, “a Gulbenkian ou o Jardim das Oliveiras no
Centro Cultural de Belém são projetos bem-sucedidos que mostram ser este o
caminho a seguir" conclui Luís Silva.
Agradecimentos.
Este trabalho não teria sido possível sem a colaboração dos arquitetos Luís
Silva e Thiago Moretti que,
gentilmente, nos concederam uma entrevista.
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